O Endividamento de Todos Nós

Endividamento é o ato de contrair uma Dívida, ou seja, de pegar dinheiro emprestado ou realizar uma compra a prazo. Quando nos endividamos, assumimos a obrigação de devolver o valor principal, que é o dinheiro original emprestado, e também os Juros, que são a remuneração pelo uso desse dinheiro.
É importante entender que os juros são o Custo da dívida. Quanto maior o Prazo para o pagamento, mais pesados se tornam os juros, pois a instituição financeira cobra por mais tempo a sua remuneração sobre o capital emprestado. Isso significa que uma dívida de longo prazo, como a de um financiamento, pode custar muito mais do que o valor original do bem, apenas devido aos juros.
Um nível razoável de endividamento é aquele que não compromete o bem-estar financeiro da família, geralmente comprometendo até 15% da renda mensal. Acima disso, o comprometimento da renda pode se tornar um Risco, dificultando o pagamento de outras despesas essenciais e a capacidade de poupar.

Introdução

O tema do endividamento é uma realidade onipresente na vida moderna. Desde a compra de um carro até o financiamento de uma casa, as dívidas são uma parte intrínseca de nosso sistema financeiro. No entanto, é fundamental diferenciar entre dívidas que impulsionam o crescimento e aquelas que nos arrastam para a pobreza. A falta de educação financeira é, muitas vezes, a raiz do problema, uma vez que “o assunto dinheiro não é ensinado nem em casa nem na escola“, o que perpetua um ciclo de dificuldades financeiras para a maioria da população (KIYOSAKI & LECHTER: 2000, p. 22).

Existem as chamadas “dívidas boas“, que são aquelas que criam ou expandem nosso patrimônio líquido. O investidor Warren Buffett, por exemplo, destaca que “a dívida não significa nada se não levarmos em conta a capacidade de pagamento” (PECAUT & WRENN: 2020, p. 52). Exemplos de dívidas boas podem ser um empréstimo para iniciar um negócio lucrativo ou um financiamento imobiliário (se for um bom negócio). A aquisição de uma moradia é um exemplo de dívida que, embora de longo prazo, pode representar um ativo importante na vida de uma família, desde que a hipoteca não comprometa mais que o dobro da renda familiar anual (STANLEY & DANKO: 1999, p. 82).

Por outro lado, existem as “dívidas ruins“, que empobrecem e são geralmente ligadas ao consumo. Um exemplo claro é o uso do cheque especial ou do cartão de crédito para manter um padrão de vida superior às suas possibilidades (PASCHOARELLI: 2007, p. 68; FERREIRA: 2011, p. 66). Esse tipo de endividamento cria uma armadilha, na qual o indivíduo “vive fora de seu padrão de vida” (DOMINGOS: 2013, p. 47) e se afunda em juros cada vez maiores. Portanto, a chave para uma vida financeira saudável é manter um baixo nível de endividamento, pois “o melhor investimento atualmente é não ter dívidas, pois elas são muito caras” (LUQUET & ASSEF: 2006, p. 23).

Desenvolvimento

O endividamento, especialmente o de consumo, é uma armadilha que consome a prosperidade. A ideia de que “comprar com juros a longo prazo pode sair muito caro” (PASCHOARELLI: 2007, p. 45) é uma realidade frequentemente ignorada. O preço inicial de um produto pode ser ilusório, e o custo real se revela ao longo dos meses de pagamento, quando os juros se acumulam. Essa falta de percepção sobre o custo real do dinheiro emprestado é uma das razões pelas quais muitas pessoas se encontram em dificuldades financeiras. O próprio Warren Buffett alerta sobre os perigos de combinar “ignorância com dinheiro emprestado“, pois as “consequências podem ser interessantes” (BUFFETT & CLARK: 2007, p. 103).

Pessoas financeiramente bem-sucedidas têm uma abordagem diferente em relação às dívidas. Elas as utilizam estrategicamente para crescer, mas raramente têm um endividamento elevado. Buffett, por exemplo, aconselha a “manter boas reservas e diminuir as dívidas” (PECAUT & WRENN: 2020, p. 241), reforçando a importância de uma base financeira sólida. Para combater o endividamento excessivo, uma das ferramentas mais eficazes é a criação de um orçamento pessoal. Através do orçamento, a pessoa consegue mapear suas receitas e despesas, identificar onde o dinheiro está sendo gasto e, assim, tomar decisões mais conscientes. É uma forma de “parar de cavar” um buraco financeiro e começar a construir uma saída (BUFFETT & CLARK: 2007, p. 108).

A manutenção de dívidas excessivas não afeta apenas a conta bancária. Ela causa impactos negativos no bem-estar da família, gerando estresse, ansiedade e até conflitos. As dívidas criam um ciclo vicioso onde o foco está em pagar o que se deve, em vez de construir um futuro. O conselho de “livre-se das dívidas para poder poupar” (DOMINGOS: 2013, p. 108) é essencial para quebrar esse ciclo e permitir que a família comece a construir um patrimônio. Pessoas com dívidas altas, muitas vezes, têm dinheiro na poupança e, ao mesmo tempo, utilizam o cheque especial, um “erro gravíssimo” que gera perdas significativas (LUQUET & ASSEF: 2006, p. 23). Na verdade, “o melhor investimento que se pode fazer com a poupança é pagar as próprias dívidas” (SCHENINI & BONAVITA: 2004, p. 84).

Conclusão

O papel das dívidas em nosso patrimônio é um tema de reflexão profunda. Devemos nos perguntar: as dívidas que tenho estão me ajudando a construir riqueza ou estão me empobrecendo? Como vimos, nem toda dívida é ruim, mas o endividamento de consumo, que se manifesta no uso indiscriminado do cartão de crédito e do cheque especial, é uma fonte de empobrecimento.

Para gerenciar o endividamento de forma eficaz, a manutenção de um orçamento rigoroso é indispensável. Ele serve como um mapa para navegar pelas finanças pessoais, permitindo que se veja com clareza o fluxo de dinheiro e, assim, se evite cair em armadilhas financeiras. Pessoas bem-sucedidas entendem essa dinâmica, tanto que se distinguem das demais pelo fato de que “mais recebem juros do que pagam” (NIGRO: 2018, p. 68), transformando o endividamento de uma ferramenta de consumo para um motor de crescimento.

Para alcançar esse nível de controle financeiro, a educação financeira é a chave. A “literacia financeira” é uma habilidade que não é ensinada na maioria das escolas (HUGHES: 2006, p. 62), mas que é crucial para o crescimento pessoal. Dominar essa habilidade permite que se entenda a dinâmica do dinheiro, a diferença entre ativos e passivos, e a importância de manter um baixo nível de endividamento. É fundamental lembrar que, por mais que investir seja uma meta, a prioridade é “evitar ao máximo investir enquanto temos dívidas” (NIGRO: 2018, p. 106). Ao dominar a literacia financeira, cada um de nós pode tomar as rédeas de suas finanças, transformando a relação com o dinheiro de um ciclo de dívidas para uma jornada de prosperidade.

Referências

Artigo neste website: Sinais de uma Boa Conduta Financeira Pessoal

Central de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal: Central de Responsabilidades de Crédito

BUFFETT, Mary; CLARK, David. O Tao de Warren Buffett. Lisboa: Actual Editora, 2007.

DOMINGOS, Reinaldo. Terapia financeira. Luanda: Plural Editores Angola, 2018.

FERREIRA, Vera Rita de Mello. A cabeça do investidor. São Paulo: Évora, 2011.

HUGHES, James E. Jr. Riqueza familiar: como manter o patrimônio por gerações. São Paulo: Saraiva, 2006.

KIYOSAKI, Robert T.; LECHTER, Sharon L. Pai rico, pai pobre. Lisboa: Vogais, 2023.

LUQUET, Mara; ASSEF, Andrea. Você tem mais dinheiro do que imagina. São Paulo: Saraiva, 2006.

NIGRO, Thiago. Do mil ao milhão: sem cortar o cafezinho. São Paulo: HarperCollins, 2018.

PASCHOARELLI, Rafael. A nova regra do jogo. Rio de Janeiro: Elsevier / Campus, 2007.

PECAUT, Daniel; WRENN, Corey. A Universidade da Berkshire Hathaway. Rio de Janeiro: Alta Books, 2020.

SCHENINI, Paulo Henrique; BONAVITA, João Ricardo. Finanças para não financistas. Lisboa: Lisbonpress, 2020.

STANLEY, Thomas J.; DANKO, William D. O milionário mora ao lado. São Paulo: Manole, 2023.


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