A Pobreza Humana e Seus Quatro Contribuintes

Viver com a privação crônica e prolongada de recursos, capacidades e condições essenciais para uma vida digna pode definir sumariamente a condição de Pobreza Humana. Essa condição não se resume à falta de renda, mas também ao desaparecimento do acesso a direitos básicos, como alimentação adequada, água, saneamento, educação e saúde, limitando o desenvolvimento pessoal. A privação de boas condições de vida pode diminuir as oportunidades de aproveitar a vida em sua plenitude, embora o impacto da renda e/ou da riqueza na percepção de felicidade e bem-estar financeiro possa ser questionado.

A indicação de Cerbasi (2003, p. 47) sobre a existência de quatro grandes equívocos comuns a praticamente todo indivíduo em situação de pobreza — o desprezo pelos pequenos valores, a negligência em relação a boas negociações, a falta de percepção financeira e a ausência de um destino claro — serviu de inspiração para este artigo. Partindo desses tópicos, foram reunidas citações que corroboram esses componentes, complementando-as com a visão de outros autores para uma compreensão mais abrangente do tema. O objetivo é melhorar a percepção sobre algumas das principais causas do empobrecimento do indivíduo.

A seguir, serão explorados os equívocos financeiros sugeridos por esse autor, com o suporte de outras referências.

Primeiro Erro:

O Desprezo Pelos Pequenos Valores

O desprezo pelos pequenos valores é um equívoco que nos impede de aproveitar oportunidades de crescimento financeiro. A Lei dos Pequenos Números, conforme sugerida por Ferreira (2011, p. 20), indica um erro cognitivo em que pequenas amostras são assumidas como altamente representativas de uma população maior. Isso pode levar a conclusões precipitadas e a superestimar a influência de resultados específicos, reforçando a ideia de que “pequenos valores” não importam.

No entanto, Paschoarelli (2007) mostra o oposto. Ele lembra que pequenos investidores podem iniciar aplicações em títulos federais com valores a partir de € 30 (p. 27). O autor afirma que, com pequenas mudanças comportamentais, é possível extrair mais dos nossos recursos (p. 30). Ele ainda reforça que, independentemente da pequenez dos recursos disponíveis para o investimento, sempre haverá um bom destino para eles, que não seja o consumo (p. 106). Essa visão contraria a percepção de que valores modestos não têm impacto no futuro financeiro, mostrando que a disciplina de poupar e investir, mesmo pequenas quantias, é importante.

Segundo Erro

Não Fazer Caso de uma Boa Negociação

A pressa é um fator que nos impede de buscar mais informações antes de fechar um negócio, levando a negociações ruins (Paschoarelli, 2007, p. 14). Muitas pessoas, sem se darem conta, acabam aceitando propostas desfavoráveis por não discutirem os pontos mais importantes no momento certo (Paschoarelli, 2007, p. 17).

Paschoarelli (2007, p. 42) orienta que, ao levar a negociação ao gerente da loja, é possível alcançar o limite de preço que a venda pode oferecer. Isso demonstra a importância de ir além da primeira oferta, buscando ativamente as melhores condições. A falta de hábito ou a timidez em negociar pode custar caro a longo prazo.

A mentalidade de negociação é exemplificada por grandes investidores, como Warren Buffett. Pecaut & Wrenn (2020, p. 100) ressaltam que Buffett goza do status de comprador preferencial, pois sua empresa, a Berkshire Hathaway, nunca terá dificuldades de financiamento. Esse poder de barganha, conquistado com solidez financeira e reputação, é a máxima expressão de uma boa negociação, mostrando que a habilidade de negociar é um pilar do sucesso financeiro.

Terceiro Erro

Não Ter Percepção Financeira

A falta de percepção financeira está intimamente ligada à nossa capacidade de refletir e processar informações de forma objetiva. Gracián (2006, p. 24) destaca que o sábio reflete sobre tudo com cuidado, especialmente sobre temas profundos e duvidosos, pois a reflexão atinge o que a percepção inicial não alcançou.

Ferreira (2011, p. 55) aponta que a percepção das pessoas difere com base em fatores como personalidade, história de vida, grupo social e cultura. Além disso, as emoções atuam sobre a percepção, contaminando todo o processo mental (Ferreira, 2011, p. 176). A emoção, sendo um impulso próximo do instinto e do desejo, se mostra suscetível a ilusões que buscam responder a esses anseios. Por isso, dificilmente estaremos diante de fatos puramente objetivos. A percepção de risco, por exemplo, pode ser distorcida, fazendo com que apenas as informações que confirmam a excitação prazerosa sejam levadas em conta (Ferreira, 2011, p. 136).

Compreender que nossa percepção é falha e influenciada por fatores internos e externos é o primeiro passo para desenvolver uma percepção financeira mais aguçada. É preciso ir além do que se “sente” e buscar dados e informações concretas para tomar decisões financeiras.

Quarto Erro

Não Saber Onde se Quer Chegar

A ausência de objetivos claros é um obstáculo significativo no caminho para a prosperidade. Gracián (2006, p. 54) alerta que muitos se perdem em um falatório sem fim, “dando cem voltas ao redor do mesmo ponto” e sem nunca chegar ao âmago da questão. Essa falta de clareza de ideias impede o progresso e o foco. É importante reconhecer a nossa responsabilidade sobre a própria situação. Andrews (2007, p. 27) lembra que as influências externas não são as únicas responsáveis por nosso estado mental, físico, espiritual ou financeiro.

Escolhemos o caminho para o nosso destino atual. A responsabilidade pela situação em que nos encontramos é nossa. O autor ainda nos adverte para não deixar que nossa história controle nosso destino (Andrews, 2007, p. 31), incentivando-nos a ter uma mentalidade de “águia” que voa alto, em vez de uma de “galinha” que briga por migalhas (Andrews, 2007, p. 43).

O medo da luz — ou do sucesso — é um desafio a ser superado (Andrews, 2007, p. 96). Como podemos liderar outras pessoas em direção a um destino que ainda não alcançamos? A reflexão é clara: precisamos ter a coragem de definir nosso próprio destino, sem nos amarrar ao passado.

Conclusão

Os quatro equívocos sugeridos por Cerbasi, como o desprezo pelos pequenos valores, a negligência na negociação, a falta de percepção financeira e a ausência de um objetivo claro — são pilares para a compreensão da pobreza humana, não apenas como uma condição de falta de renda, mas como um reflexo de comportamentos e mentalidades. O desprezo por pequenos valores impede o acúmulo de riqueza ao longo do tempo. A falta de negociação resulta em perdas de recursos que poderiam ser poupados. A percepção financeira deficiente, influenciada por emoções e vieses cognitivos, leva a decisões equivocadas. Desse modo, a ausência de um destino claro faz com que o indivíduo se perca em um ciclo de improdutividade.

A responsabilidade por nossa situação financeira é nossa, e a mudança começa com a reflexão e o planejamento. A pobreza, em muitos casos, é uma “escolha” inconsciente, alimentada por esses comportamentos. A boa notícia é que, ao compreendê-los, podemos reverter esse ciclo.

Se este artigo o motivou a melhorar suas finanças, procure outros textos e recursos que possam cumprir esse papel. O importante é agir.

Referências

ANDREWS, Andy. A Viagem da Sabedoria: Uma História Sobre as Sete Decisões Fundamentais da Vida. Editora Sextante, 2007.

CERBASI, Gustavo P. Dinheiro, os Segredos de Quem Tem: Como Conquistar e Manter Sua Independência Financeira. 2ª ed. Editora Gente, 2003.

FERREIRA, Vera Rita de Mello. A Cabeça do Investidor: Conheça Suas Emoções para Investir Melhor. Editora Aurora, 2011.

FILHO, C. B.; POMPEU, J. A Filosofia Explica as Grandes Questões da Humanidade. Editora Casa do Saber & Casa da Palavra, 2013.

GRACIÁN, Baltasar. A Arte da Prudência. Editora Sextante, 2006.

PASCHOARELLI, Rafael. A Regra do Jogo: Descubra o que Não Querem que Você Saiba no Jogo do Dinheiro. 3ª ed. Editora Saraiva, 2007.

PECAUT, Daniel; WRENN, Corey. A Universidade da Berkshire Hathaway: Lições Aprendidas Durante Mais de 30 Anos com Warren Buffett & Charlie Munger na Reunião Anual de Acionistas. Editora Alta Books, 2020.

Artigo neste website: Cuidado com as Pequenas Despesas


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